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Crónicas agudas de coisas rombudas

Quando no mês de Abril do passado ano de 1974 Portugal, ainda muito receoso e mostrando marcas mais ou menos profundas de incomodativas mordaças, começou a poder exprimir o seu pensamento e a balbuciar as primeiras palavras de país livre, eu, que estou muito longe de ser um revolucionário e ainda muito mais distante de ser um irrequieto activista, pude também, pela primeira vez, soltar palavras muito cuidadosamente reprimidas e arejar ideias que, até aí, cá muito no meu íntimo, (não fosse o diabo tecê-las), mantinha cautelosamente abafadas.

 

Pude começar a dizer quase, (lá vem o raio dum quase), tudo sem medo de ser escutado por um qualquer sujeito que está sentado junto à minha mesa no café a ler atentamente o seu jornal, ou, parado no passeio, não longe de mim e do amigo que comigo conversa, a ver com manifesto interesse uma montra qualquer que, para o efeito e para ele, tanto faz ser de elegantes sapatos de senhora como de amorosas roupinhas de criança. 

   

Passei a ser totalmente livre? Não, mas quase (cá está outro quase).

Vivo, digamos assim, numa espécie de liberdade condicionada que me permite, (apetecia-me dizer obriga), lembrar, a todo o momento, onde estou e até onde posso ir.

 

Parecerá um contra-senso, mas a Liberdade tem limites bastante apertados e não são nada raros aqueles (eu neles incluído) que, inadvertidamente e sem qualquer má-fé, tais limites muitas vezes ultrapassam.

 

Pelos meus eventuais futuros pecados, um tanto curvado, porque me pesam os anos, mas bem de pé, porque me doem os joelhos, antecipadamente, a todos peço imenso perdão.

 

Enquanto por aqui vou escrevendo umas tretas, já agora, e porque também já me vêm doendo as costas, permitam que eu tome a liberdade de o fazer sentado. Garanto que, doa-me o que doer, e mesmo que gentilmente tal liberdade me dessem, de cócoras é que nada aqui, nem ali, hei-de vir a escrever.

   

 

Isolino de Almeida Braga

 

 

 

  

*** NOTAS

 

 1. Por definição, as crónicas (do grego, khrónos, tempo) são escritas perante  factos e acontecimentos, muitas vezes extremamente fugazes, que marcam um certo tempo e facilmente passam de moda. Ao reler muitas delas, algumas até nem muito distantes, interroguei-me, por momentos nem sempre breves, sobre a razão que me levou a escrevê-las. Nem sempre foi tarefa fácil!

Perante isso, e tal com estou a fazer com esta "nota", resolvi acrescentar, apenas nos casos em que tal achei necessário, meia dúzia de palavras que permitam ajudar a compreender  quem mais tarde, eu próprio incluído,  as vier a ler fora do tempo que me as fez inspirar.

 

2. Para, espero eu, facilitar a leitura, deixo muitas abertas nos textos para  lhes tirar o aspecto massudo e, assim, não afugentar os curiosos que, eventualmente, por aqui venham dar uma espreitadela. 

 

3. Aqui, ostensivamente, declaro que não respeito um tal Novo Acordo Ortográfico (NAO) que me querem impor. 

 

NÃO !  (com um til em cima do A)

 

4. Para que não restem quaisquer dúvidas, ainda mais ostensivamente, reafirmo o que disse na Nota 3.  

 

NÃO !  (com o tal til mesmo, mesmo, em cima do A).

 

5. Sejam todos por aqui muito bem-vindos!

 

 

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